Dificuldade de prestar atenção? O problema pode estar na sua audição
Você tem dificuldades de se concentrar quando conversa com as pessoas ou quando está em aula? Apesar de os sintomas serem semelhantes ao déficit de atenção, o seu problema pode estar no ouvido.
Falta de foco é um dos sintomas do distúrbio do processamento auditivo central (DPAC). O nome talvez soe estranho, mas a doença é muito comum.
Como funciona o processamento auditivo central
Antes de saber como funciona o transtorno em si, é preciso entender o processamento auditivo central. Ele é a capacidade do sistema nervoso de traduzir as informações que escutamos.
Além disso, inclui a capacidade de prestar atenção em um som e ignorar outro. Ou seja, o processamento auditivo consegue localizar um som e também reconhecer padrão auditivo.
Isso significa, por exemplo, que em um show você é capaz de distinguir entre os instrumentos (notas musicais) e a letra que o(a) cantor(a) está dizendo. É essa habilidade que permite que manter uma conversa e reconhecer as palavras em meio a outros ruídos, como música, canteiro de obras, sons do trânsito.
O que é o distúrbio do processamento auditivo central?
O distúrbio do processamento auditivo central ocorre quando não conseguimos cumprir essas funções. Isso acontece porque as vias centrais da audição – ou seja, as áreas do cérebro relacionadas às habilidades auditivas – estão afetadas.
Essas regiões são responsáveis por detectar e interpretar as informações sonoras. A interpretação é que vai levar, no caso das linguagens humanas, à compreensão do que as outras pessoas estão dizendo.
Na maioria dos casos, mesmo em pessoas com o distúrbio, o sistema auditivo periférico encontra-se preservado. Ou seja, a pessoa com DPCA não tem problemas no tímpano, nervo auditivo, ossículos ou cóclea, por isso ouve claramente a conversa, só que não consegue interpretar a mensagem.
O que pode causar o transtorno?
As causas do distúrbio de processamento auditivo central são variadas e muitas vezes desconhecidas pela Medicina. No entanto, algumas tendem a ser mais comuns:
- Origem genética
- Otites de repetição
- Traumatismo craniano
- Lesões cerebrais por anóxia (falta de oxigênio no cérebro, o que pode levar à morte de neurônios e resultar em danos cerebrais irreversíveis)
- Distúrbios neurológicos
- Atraso maturacional das vias auditivas do Sistema Nervoso Central
- Envelhecimento natural do cérebro.
Quem pode ter o distúrbio?
O DPAC pode atingir pessoas de qualquer idade e sexo. No entanto, é mais comum em crianças e idosos. Na infância, o distúrbio tende a ocorrer no período de alfabetização e pode comprometer o aprendizado da criança. Isso porque, sem conseguir prestar atenção ou decifrar o que os(as) professores dizem, aprender fica muito mais difícil.
Por isso, assim que pais ou tutores perceberem os sintomas, é preciso procurar um especialista e iniciar o tratamento. Com crianças, é necessário cautela extra, já que em muitos casos o distúrbio de processamento auditivo central pode ser confundido com dislexia ou transtorno do déficit de atenção.
Sintomas do DPAC
O principal sintoma do distúrbio de processamento auditivo central é a dificuldade de compreender conversas e a falta de atenção. Esses sintomas trazem consigo outras características que podem apontar o transtorno.
Maior dificuldade de prestar atenção em lugares com muito barulho e necessidade de pedir sempre para alguém repetir alguma coisa fazem parte dessa lista. Como consequência, é comum pacientes não conseguirem se manter em conversas longas.
São indícios, também, a incapacidade de leitura e escrita, bem como a dificuldade na aprendizagem e na memorização de informações – como conteúdos escolares. Esse último fator pode levar, ainda, a cansaço extremo durante aulas e cursos.
Ao perceber algum desses sintomas, procure imediatamente um especialista. O(a) médico(a) mais indicado(a) para tratar o distúrbio é o(a) otorrinolaringologista. Fonoaudiólogas(os) também podem realizar as avaliações.
Diagnóstico do distúrbio de processamento auditivo central
Alguns testes podem ser realizados para avaliar a qualidade da audição. O mais comum é feito em uma cabine acústica, onde a paciente ou o paciente usa fones de ouvido e ouve áudio, tendo de interpretá-los.
Nesse processo, avalia-se se há a capacidade de compreender o que está sendo falado no áudio, ou seja, o que as palavras significam. Além disso, o médico pode solicitar uma audiometria, que vai averiguar se os órgãos de audição – que captam as ondas sonoras físicas – estão bem conservados.
Pacientes em diagnóstico também passam por testes para avaliar as habilidades e o impacto da falta de audiência na vida social, escolar e familiar. As avaliação são feitas durante a consulta com o(a) especialista.
Como o DPAC pode ter sintomas semelhantes a outras doenças, no entanto, uma equipe multidisciplinar pode participar do diagnóstico, em vez de apenas a(o) otorrinolaringologista. Neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos(as) e psicólogos(as) podem ter contribuições importantes. Se a(o) paciente for criança ou adolescente, profissionais da Pedagogia também podem indicar ações para melhorar o desenvolvimento em sala de aula.
Tratamento
A boa notícia é de que o tratamento é simples e muito eficaz. Em alguns casos, inclusive, a terapia pode até reverter os sintomas do distúrbio de processamento auditivo central.
O método terapêutico de reabilitação é o treinamento auditivo. Nele, um conjunto de tarefas acústicas pré-determinadas pelo(a) médico(a) é usado para ativar e/ou modificar o sistema auditivo. As tarefas, que incluem jogos e áudios, estimulam o sistema cerebral a trabalhar.
Quando o diagnóstico é tardio, o tratamento pode ser mais complicado e mais extenso.